Museu da Gente Sergipana: uma visita ao premiado museu mais interativo do Nordeste

Hoje ainda persiste um pensamento um tanto quanto generalizador de que museus são, normalmente, depósitos de objetos antigos, com plaquinhas informativas sobre o significado e a história do que é mostrado… Mas, pouco a pouco, essa visão tem mudado.

No Brasil, há alguns anos, começou a se espalhar o novo (ao menos para os nossos padrões) conceito de museu interativo, contudo, quando se pensa em grandes museus com algum tipo de interatividade, são lembrados principalmente museus localizados na região Sudeste do país, sobretudo no estado de São Paulo. É nele que está um dos museus interativos mais conhecidos do país: o Museu da Língua Portuguesa, que, inaugurado em 2006, se consolidou como um dos mais visitados do país, recebendo milhões de visitantes. Na mesma região, mais especificamente em Minas Gerais, a zona da praça da Liberdade, em Belo Horizonte, tem se consolidado como o maior circuito museológico do país, sendo grande parte dos museus e memoriais quase completamente interativos.

Enfim, essa tendência de ter museus interativos não está presente só no Sudeste. Muitos desconhecem mas, no Nordeste, foi inaugurado há poucos anos aquele que tem figurado como um dos mais premiados museus brasileiros: o Museu da Gente Sergipana. Localizado em Aracaju, a capital do estado de Sergipe, ele tem o título de primeiro (e, por enquanto, único) museu interativo da região. Em menos de três anos de funcionamento, já recebeu diversos prêmios pela arquitetura, restauração e interatividade. Em 2012, foi o projeto vencedor do prêmio “O melhor da arquitetura 2012” na categoria Restauro. Esse prêmio é promovido pela Editora Abril, através da Revista Arquitetura e Construção. Já em 2013, ele está sendo considerado a “Atração do Ano” pelo Guia Brasil 2013 e figura na seleta listagem dos 29 melhores museus do Brasil, classificação feita pelo Guia Quatro Rodas.

O museu está localizado no prédio do antigo colégio Atheneu Dom Pedro II, popularmente chamado de “Atheneuzinho”, uma construção que data de 1926 e que passou por um cuidadoso trabalho de restauração, trabalho esse realizado pelo Governo do Estado de Sergipe, através do Banese (Banco do Estado de Sergipe) e é mantido pelo Instituto Banese. As obras foram iniciadas em 2008 e a inauguração ocorreu no final de 2011.

Museu da Gente SergipanaBom, já falei sobre a história, sobre a importância e sobre os prêmios, então chega a hora de saber o que tanto chama a atenção de quem visita o museu, e que é praticamente uma unanimidade:  o conhecimento da cultura popular sergipana. O melhor é que, como todo museu interativo que se preze, o visitante tem a oportunidade de conhecê-la através de telas, fones, jogos, sons, entre tantas outras coisas.

E afinal, o que poderá ser visto?!

 

Museu da Gente SergipanaO museu da Gente Sergipana é composto de foyer, átrio, auditório, loja de lembranças (loja da Gente), salas de exposições temporárias e diversos espaços destinados a exposições permanentes. O visitante tem a oportunidade de fazer uma visita guiada ou pode optar pela visitação espontânea, fazendo o seu próprio tempo ou roteiro.

Optando pela visita guiada, costumam ser visitados, em ordem: o auditório, os espaços Nossas Feiras, Nossos Falares, Nossos Leitos, Nossos Pratos, Nossas Roças, Midiateca, Nossas Praças, Nossas Histórias, Nossos Cabras, Nossos Marcos, Nossas Festas, Nossas Coisinhas, Nossos Trajes, e, por fim, os “estúdios” de Cordel e Repente. É possível, também, que ao final (ou antes, se preferir) da visita guiada o visitante conheça as salas de exposições temporárias. Abaixo explico melhor cada um dos espaços:

 

Museu da Gente SergipanaAuditório

Após passar pela recepção, que fica na área externa do museu, local onde o visitante necessita fazer um cadastro, e ao dirigir-se ao foyer, há um direcionamento para que ingresse ao confortável auditório, para que se possa assistir a um belo vídeo introdutório à cultura sergipana. Nele, além de ver belas imagens de atrativos históricos ou naturais, bem como de manifestações folclóricas e festividades religiosas que acontecem no estado, temos a oportunidade de observar um pouco dos costumes locais. Tudo isso regado a muito colorido, alegria e a uma sonoridade capaz de arrepiar.

 

Museu da Gente SergipanaNossas Feiras

Esse espaço é o primeiro a ser visitado no segundo piso. Ele representa uma feira livre fictícia do interior do estado, onde o visitante tem a oportunidade de interagir com um feirante virtual, o Josevende, que oferece seus produtos e aproveita para conversar. Através de um microfone, o visitante é convidado a sair do papel de ouvinte, para ser também um interlocutor, interagindo com o “José” e conhecendo muitas expressões utilizadas no estado.

 

Museu da Gente SergipanaNossos Falares

Após sair da feira fictícia, nas paredes do corredor externo que dá acesso a outras salas, o visitante se depara com inúmeras palavras e expressões tipicamente sergipanas. Algumas, por serem mais antigas ou por só serem utilizadas em determinadas comunidades, chegam a surpreender até a moradores do estado. Algumas das expressões que podem ser conhecidas são “a pusso” e “ximar”, que significam respectivamente, forçado (ex.: Ele comeu a pusso) e pedir insistentemente (ex.: O cachorro está ximando a comida). A partir desse espaço é possível ver, no centro do átrio, um mapa que representa todas as regiões do estado e, acima dele, existe um enorme “jereré”, rede utilizada para a pesca de crustáceos. Nela, “foram pescados” diversos elementos da cultura sergipana. Vale a pena observá-los!


Museu da Gente SergipanaNossos Leitos

Esse é um dos espaços que mais chamam a atenção dos visitantes, sobretudo das crianças. Logo na entrada, existe um painel que conta um pouco sobre a fauna existente no estado. Após uma breve explicação, explanação essa que é acompanhada do som característico de algumas aves, o qual vem da principal área desse espaço, o visitante é convidado a entrar em um túnel, a sentar em um pequeno barquinho, e a “navegar”, vagarosamente, nas imagens de ambientes naturais sergipanos que são mostradas por quase 180º. Os barquinhos comportam até 4 pessoas, as quais têm a oportunidade de passar alguns minutos apreciando a vegetação e os animais existentes em diferentes pontos do estado de Sergipe.


Museu da Gente SergipanaNossos Pratos

Ao final do passeio de barco, chega o momento de falar de comida. Em uma mesa existente no meio da sala, o visitante tem a oportunidade de, com as mãos, simular que está levando ingredientes para o centro da mesa, com o intuito de tentar descobrir como preparar pratos típicos sergipanos. Quando todos os ingredientes são descobertos, aparece uma breve explicação sobre determinado prato.


Nossas Roças

Ainda na mesma sala, existe outro joguinho, dessa vez simulando o cultivo de itens básicos para a alimentação, bem como a criação de animais que produzam insumos  para o consumo humano. Esse é outro atrativo que costuma fazer a alegria das crianças.


Museu da Gente SergipanaMidiateca

A Midiateca está estrategicamente posicionada praticamente no meio das salas abertas à visitação, fazendo com que seja também um ambiente para descanso. No centro desse espaço, uma enorme mesa repleta de fones de ouvido e telas sensíveis ao toque, possibilita que a pessoa conheça um pouco mais das manifestações folclóricas, das festas populares e dos marcos arquitetônicos. Também dessa sala, é possível apreciar, mesmo que por trás dos vidros das portas, a bela vista para o rio Sergipe e para a Barra dos Coqueiros, localizada na outra margem.


Museu da Gente SergipanaNossas Praças

Esse espaço costuma trazer um sentimento de saudosismo aos mais velhos, e de curiosidade, expectativa e por fim, uma pitada de decepção nas crianças. Explico: no centro dessa sala existe um simpático carrossel, ou a simulação do que seria um. Quando você entra e ele está parado, a visão é de um carrossel cercado por uma praça que é vista na parede. No momento em que ele é manualmente girado, uma simpática música ecoa pela sala, e a imagem começa a girar seguindo a rotação do “brinquedo”. A partir disso, tudo fica mais animado, e o visitante tem a possibilidade de passear por algumas das principais praças do estado, como a de São Francisco, em São Cristóvão, a da Matriz, em Laranjeiras, e a Fausto Cardoso, em Aracaju.

Bom, agora tenho que explicar o porquê da possível decepção que crianças podem sentir: apesar de possuir cavalinhos de madeira e de girar, não se pode subir. Sendo assim, os pequeninos têm que se contentar em olhar, ouvir e, no máximo, em tocar – o que já é muito bom!


Museu da Gente SergipanaNossas Histórias

Esse espaço é praticamente um labirinto de espelhos, onde, ao andar pelo ambiente, inesperadamente a iluminação dos espaços expositivos é acesa e a pessoa tem a oportunidade de ver itens do artesanato local, bem como indumentárias típicas, entre outras coisas. Além de ver, é possível ouvir gravações com explicações a respeito do que é mostrado.

 

Museu da Gente SergipanaNossos Cabras

Em três telas são mostradas personalidades sergipanas (ou que tenham alguma relação com o estado). Com o uso de fones de ouvido, é possível conhecer, por exemplo, um pouco mais da história do artista plástico Arthur Bispo do Rosário, do filósofo, poeta e jurista Tobias Barreto, e também do cangaceiro Lampião, que, apesar de não ser sergipano, rondou o território do estado por muitos anos e inclusive foi morto em terras sergipanas.


Museu da Gente SergipanaNossos Marcos

Em uma espécie de mesa, o visitante tem a oportunidade de girar um pião, e o local onde ele parará definirá qual marco arquitetônico do estado será mostrado. É possível visualizar algumas das mais importantes igrejas, bem como alguns palácios.

 

Museu da Gente SergipanaNossas Festas

Esse espaço é um dos mais divertidos. O visitante mais velho tem a oportunidade de reviver a infância com uma brincadeira que já foi muito popular: a amarelinha. É possível lançar um cubo no desenho e, escolhida a manifestação ou festa popular que deverá ser conhecida, e também ao jogar direitinho e concluir o desafio, a amarelinha dá lugar a um vídeo animado e a um som contagiante.

 

Museu da Gente SergipanaNossas Coisinhas

A princípio, a pessoa acha que é uma enorme parede cheia de cubos repletos de pequenos objetos. Mas, ao se aproximar, é possível notar que tudo aquilo é, na verdade, um enorme jogo de memória. Nos recipientes do jogo são mostrados os mais diferentes objetos representativos da cultura local.

 

Museu da Gente SergipanaNossos Trajes

Já no finalzinho da visita ao segundo piso, um enorme espelho é percebido. Aparentemente, ele seria só um espelho qualquer mas, quando alguém se posiciona em determinado ponto, é possível visualizar a pessoa supostamente vestida em trajes nada convencionais. Esses trajes são, na verdade, vestimentas utilizadas por “brincantes” das mais variadas manifestações folclóricas do estado.

 

Museu da Gente Sergipana“Estúdios” de Cordel e Repente

Em frente ao espelho do espaço “Nossos Trajes”, estão localizados dois espaços que, pela semelhança, chamarei de estúdios. No primeiro, decorado por dezenas de coloridos livretinhos de Cordel, o visitante tem a oportunidade de, em frente a uma tela e a um microfone, “declamar” o que aparecerá para ser lido. Ao final, é possível assistir a um vídeo de como foi a declamação e, se a pessoa desejar, é possível que a gravação vá direto para o canal do museu no Youtube. Quem não desejar se ver no Youtube, é só recusar o envio, sem maiores complicações.

O outro estúdio é dedicado ao Repente. O visitante tem a oportunidade de escutar parte de um Repente, falado por alguns dos mais tradicionais repentistas do estado e, no momento certo, continuar e fazer a sua improvisação. Esse espaço tem basicamente a mesma funcionalidade do outro, ou seja, tudo será gravado e fica a critério da pessoa publicar ou não na internet.


Museu da Gente SergipanaExposições Temporárias

Ao fim da visita guiada (ou antes mesmo de ela ser iniciada), voltando ao foyer, no primeiro piso, é possível visitar os espaços de exposições temporárias. Normalmente, no próprio foyer, ao lado da loja de lembranças, é possível já começar a ver alguma exposição, a exemplo das fotográficas.

No final de setembro de 2013, será lançada uma exposição em homenagem a Zé Peixe, um antigo prático (que é o profissional responsável por guiar navios até que se distanciem da costa ou de áreas de risco de encalhe) que virou uma importante personalidade sergipana, pois, mesmo com seus tantos anos de vida, saltava das enormes embarcações e voltava nadando para sua casa, localizada às margens do rio Sergipe. E já podem ser vistas as exposições “Do Colégio Atheneu Pedro II ao Museu da Gente Sergipana: O Sentido da Educação e a Poética do Espaço”, que conta, em imagens, textos e objetos, um pouco da história do colégio e do museu, e também “Arte em Ciência”, que mostra, de forma interativa, como encontrar soluções ecologicamente sustentáveis para auxiliar a vida das pessoas.

Café da Gente e Instituto Banese

Em um prédio construído anexo ao do museu, funciona a sede do Instituto Banese e, também, o Café da Gente, que é o ambiente gastronômico mais próximo para aqueles que necessitam almoçar ou apenas fazer um lanche. O espaço é de fato bem aconchegante. O café funciona em horário independente do museu, normalmente das 10:00 às 20:00. Para mais informações, ligar para +55 (79) 3246-3186.

Dias, horários de funcionamento, dicas e outras informações sobre o museu

O Museu da Gente Sergipana funciona, sempre gratuitamente, de terça a sexta das 10h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados das 10h às 16h. Excepcionalmente em determinadas datas, sejam elas comemorativas ou em razão de apresentações de grupos folclóricos, orquestras e bandas, que fazem parte das ações educativas do museu, é possível que fora do horário de visitação haja acesso a espaços como o auditório, o foyer e o átrio.

Fotografias costumam ser permitidas em todos os ambientes do segundo piso, com exceção do espaço Nossos Leitos, e do primeiro piso, com exceção do auditório.

Dica nº 1: Quase semanalmente grupos folclóricos se apresentam no lugar, normalmente às sextas-feiras, ou quando cortejos folclóricos saem de algum outro ponto do Centro da cidade com destino ao museu.

Dica nº 2: Ao chegar no estacionamento, não deixe de observar os painéis existentes no muro. São todos fruto do trabalho de artistas sergipanos. A arte já pode começar a ser vista ali.

Para ver a página do museu da Gente Sergipana no Facebook, clique aqui. Para mais informações e também para agendar visita de grupos, ligar para +55 (79) 3218-1551 ou acessar o site do museu.

Como chegar

Chegar ao Museu da Gente Sergipana é super fácil. Localizado na região central de Aracaju, mais especificamente na avenida Ivo do Prado, 398, também conhecida como “rua da Frente”, que é popularmente chamada assim por estar em frente ao rio Sergipe, por onde a cidade começou a crescer – existe um amplo e gratuito estacionamento para quem tenha algum veículo à disposição. Para quem optar por chegar de ônibus, existem diversas linhas que passam nos dois sentidos da avenida. Eis:

Saindo da Avenida Santos Dumont, na Atalaia (região hoteleira de Aracaju), e seguindo sentido Centro (ao norte):

•Circular Cidade 01 – 5001
•Santa Tereza/Bairro Industrial – 008

Saindo do terminal de integração da Zona Sul, na Atalaia:

•Mosqueiro/Centro – 717
•Circular Cidade 01 – 5001
•Fernando Collor/Atalaia – 007

Outras linhas que passam em frente ao museu a partir de diferentes pontos da cidade:

Augusto Franco/Bugio – 001 / João Alves/Orlando Dantas – 003 / Augusto Franco/Beira Mar – 702 / Maracaju/D.I.A. – 005 / Circular Indústria e Comércio 01 – 200 CIC1 / Circular Indústria e Comércio 02 – 200 CIC2 / Circular Hermes Fontes/Beira Mar 01 – 400CHB1 / Circular Cidade 02 – 500CC2

Decidir conhecer o museu da Gente Sergipana é ter a certeza de ter algumas horas de total distração em meio a uma interatividade até pouco tempo inexistente na região Nordeste em equipamentos culturais do tipo. Enfim, visite o quanto antes! Vale a pena! 😉

Por Tito Garcez

 

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