Sozinha, eu?

Nunca viajamos sozinhas. Cada uma das coisas que levamos numa viagem aciona depois um arsenal de boas histórias: as malas, o mp3, aquela mochila velha e, por que não, uma câmera muito antiga, descascada, pesada e grossa? E foi quando a minha digital parou de funcionar na que seria a primeira foto de uma viagem a Trindade, há poucos dias, que me dei conta: nunca viajei só! Talvez eu precise de terapia por ver numa mochila velha e que precisa de remendos uma companhia. Conheço até quem só acampe na mesma barraca há anos. A companhia não está no objeto, mas no repertório que traçamos com eles.

Acredito que não viajamos sozinhas justamente porque estamos em nossa própria companhia. Tem quem diga, num julgamento muito superficial, que quem viaja sozinha está tentando se encontrar. Confesso que nunca me perdi antes de viajar. A viagem sozinha não é só um  momento de liberdade total, mas de autoconhecimento e, porque não dizer, de aprender a conviver com nossos próprios defeitos. Mas vejo também como superação de certos limites que nos impomos no dia-a-dia.  Vejamos: quantas vezes você jantou num restaurante simplesmente porque estava com vontade, mesmo que não houvesse ninguém para compartilhar a mesa?

Entre as desvantagens de uma viagem “by yourself” apontadas em vários blogs e sites está quase como unanimidade: jantar sozinha. E continua a pergunta: já jantou sozinha num restaurante? Não estou falando de refeição em self-service. Mas daquele dia especial em que seus amigos estavam ocupados, o namorado/marido/namorido tinha um compromisso, ou então você é solteira e queria jantar num restaurante badaladíssimo?

Pois saiba: é bem provável que numa viagem independente você sequer questione a possibilidade e esqueça que as “pessoas irão olhar”, que “irão sentir pena” e vão achar que “te deram o bolo”. Isso é uma grande bobagem. Sente e jante. E curta muito.

Foi numa dessas “contravenções” sociais que me presenteei numa viagem a Budapeste. Passei por um restaurante que parecia super agradável. Pequeno, aconchegante. E com velas nas mesas. Voltei para o hotel decidida a jantar lá. E foi assim que experimentei a melhor sobremesa da minha vida. Ninguém me olhou como se eu fosse um ET –  talvez somente na hora do flash porque, óbvio, registrei esse “momento só meu”.

Arrume suas malas. Separe as músicas que te acompanharão. Desbloqueie o rooming do celular para ligar quando sentir saudade. E viaje. Fácil, não? E se for para a Hungria, Gundel Palacsinta –  não deixe de experimentar.

 

Mônica SouzaPor Monica Sousa
Monica Sousa é jornalista. Mestre em Comunicação. Viajante sem luxos. Descobriu o prazer de viajar sozinha e não parou mais. No blog batendo-perna mostra que é possível se divertir gastando pouco. Viajar bem e barato.

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